A era dos híbridos
- Rodrigo Borba
- 12 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
Hove um tempo nos primórdios dos softwares simuladores em que prezávamos pela qualidade e excelência em replicarmos o real no virtual.
Esta era dourada da simulação deu origem aos simuladores hardcore, e neste mesmo período sugiram também os simracers hardcore ( usuários sedentos por realismo e maior fidelidade entre real e virtual ).
Experimentávamos a sensação inédita de sermos pilotos virtuais pelo computador. Era a grande oportunidade de nos passarmos por profissionais, mesmo sem nunca termos entrado em um carro de competição e sem a necessidade de gastarmos milhares para fazermos parte do mundo do automobilismo real.
Há quem diga que ficamos mal acostumados por surgimos numa era em que tudo tinha propósitos e gêneros muito bem definidos.
Empresas como ISI, SIMBIN, Micropose, Papyrus e outras nos mostraram um outro lado da história. Os simuladores não eram meros joguinhos, havia sim realismo, fedelidade técnica e identificação com aquilo que nos era mostrado, ou melhor, simulado.
Por muito tempo estabeleceu-se um padrão na indústria, um gênero chamado "simulação" surgiu e definiu-se por si só.
Os softwares simuladores, para quem viveu e presenciou o seu surgimento, ( E eu tive a sorte de ter vivido esta época ), saíam praticamente de 10 em 10 anos ou pouco menos, a produção era muito lenta, os times eram compostos de 2 ou 3 pessoas quando não apenas 1, não havia este business todo envolvido, era uma atividade feita por entusiastas, as pessoas buscavam qualidade no processo, ganhar dinheiro nem sempre era a primeira opção, apenas uma consequência de um trabalho honesto e bem feito.
Os periféricos eram caríssimos e na sua grande maioria todos importados, o que inviabilizava o uso destes equipamentos pelos amantes da atividade, principalmente aqui no Brasil, algo que melhou muito, mas que estende-se até hoje pela nossa política de importação e pela nossa carga tributária altíssima.
Os tempos passaram, os softwares evoluiram, o hardware é potente, os periféricos também.
Com estes novos tempos sugiram também a necessidade e pagarmos a conta daquilo que era produzido, afinal, estamos falando de companhias que empregam algumas centenas de funcionários, que fazem produtos para uma gama muito maior de usuários, algo que era restrito ao público hardcore.
O fato é de que simuladores hardcore sempre atraíram pouco público e geraram pouca receita, justamente por venderem pouco. E não era apenas isto, estes softwares demandavam que o usuário passasse por uma linha de aprendizado específica, que tivessem que ter periférico que fosse compatível para que pudessem ter uma experiência plena, que tivessem tempo para se dedicar e para treinar, também não haviam consoles capazes de rodar estes softwares com eficiência.
Mas voltando aos tempos atuais ...
As empresas como um todo, enxergaram a necessidade de lucrarem com suas vendas, ao mesmo tempo em que poderiam nos dar pelo menos parte da experiência, sem ter que nos forçar a praticar de forma excepcional, de termos conhecimento técnico avançado, ou de termos o periférico profissional mais caro do mercado.
Os criadores de softwares simuladores não eram mais aqueles artesões que faziam tudo por amor, e por serem fãs entusiastas deste determinado gênero, que na maioria das vezes não era a atividade principal e que lhes dava seu sustento.
A indústria e grande parte dos usuários modernos viu a necessidade de criar produtos mais acessíveis, mais baratos, que eram produzidos em menos tempo, que aceitavam praticamente qualquer periférico do mercado e que poderia trazer para perto uma maior legião de fãs e usuários pagantes.
Surge a era dos simuladores híbridos ...
Os simuladores híbridos são aqueles que são a junção de sub gêneros no contexto de simulação.
Exemplo :
GÊNERO - SIMULADOR
SUB GÊNEROS :
PRO SIMULATORS ( rFactor PRO, Simuladores com softwares próprios feitos por times de automobilismo real como Toyota Motorsport GmbH etc ... )
HARDCORE SIMS ( Ex : rFACTOR 1 e 2, Assetto Corsa, iRacing, NetkarPro, Live for Speed )
REALISTIC SIMULATORS ou SIMCADES ( Gran Turismo, Forza, Project CARS )
ARCADE ( Need for Speed, The Crew etc ... )
Ao meu ver os simuladores híbridos tem uma função importante que é o de fazer a ligação dos usuários arcade para os simuladores hardcore. Temos que pensar nesta lista de gêneros como se fosse uma longa escadaria, e que os gêneros, conjuntos de degraus, levam ao gênero de topo hardcore sim.
O ponto negativo na minha opinião é de que a mistura de gêneros principalmente para os usuários novos e de pouca idade, confundiu as pessoas sobre o que é cada coisa.
Tem gente chamando realistic simulator de hardcore sim sem mesmo nunca ter vivido ou experimentado harcore sims puros.
Grande parte desta culpa vem da indústria que persiste no erro ou na proposital proposta de fundir os gêneros como apenas jogos de corrida.
Fato real e imediato é de que os usuários de antigamente eram mais dedicados, mais persistentes, colaboradores, tinham mais apego.
Hoje em dia os usuários querem tudo pronto, não se dedicam, não sabem ouvir, não entendem daquilo que falam ou pensam, e o mais importante, não querem submeter-se ao processo de amadurecimento como pilotos e usuários.
Precisamos mudar este conceito e este pensamento menor que pode extinguir o gênero de origem de iniciou isto tudo.
Deixo aqui uma frase para reflexão :
"A prática leva a perfeição, e o erro à excelência"
Permita-se experimentar ...

Exatamente isso Ed.
Precisamos mudar o nosso jeito de pensar.
Temos que enxergar o conceito real da indústria, o que é real e o que não é real.
Muito obrigado por prestigiar o post e o blog ;)
Tema difícil de se debater, difícil de entender e pior difícil de ser aceito, até por conta dos "simuladores" da moda, somos um nicho minusculo, desagrupados e para piorar acreditamos que tudo é simulador, isso me faz lembrar que a um tempo atrás trouxeram no meio dos colecionadores a palavra raro, ou seja para se vender a preços absurdos um item antigo de coleção, no final da frase tínhamos o famoso "Raro", quem não conhecia, não lia e não aprendia acreditava nesta lorota, infelizmente tudo que vira moda passa...excelente texto e continue a nos trazer estes excelente temas, grande abraço.
Muito bacana Calejão !
É muito interessante ver que a galera vai aprimorando aos poucos até chegarem no nível mais elevado dos simuladores hardcore, a busca e a necessidade de evoluir são constantes para quem gosta de aprender.
Parabéns !
Também sou dessa época Borba , comecei nos consoles mas queria mais realismo , onde migrei pro PC e as diversidades foram me cobrando cada vez mais para que o Simulador chegasse o mais próximo possível do realismo, corríamos sem assistências , o bicho era duro, mas hoje o que me diverte é o que eu busco nas poucas horas que tenho , Parabéns pelo Trabalho!